Os caminhos da Severa
Alberte Pagán
O filme de Leitão de Barros A Severa (1931), antes de adentrar-se no melodrama dos amores da cigana Severa e o Conde de Marialva, tirados da peça teatral de Júlio Dantas (1901), dedica a primeira meia dúzia de minutos, prévios ao encontro dos protagonistas, a dar uma pincelada histórico-social do trágico destino do povo Rom. Nesta sequência muda, um homem e uma mulher, chegados a um grupo de casas humildes numa humilde carroça, tocam, bailam e pedem esmola, mas as velhas aldeãs fecham-lhes as portas e um grupo de crianças expulsam-nos a pedradas.
Nestes poucos planos Leitão de Barros condensa séculos de perseguição, escravismo e deportações deste povo nômade: marcados (na Morávia e na Boêmia cortava-se uma orelha às mulheres), enviados para campos de trabalho (na Gran Redada de Gitanos de 1749) e condenados à morte. Este longo processo de limpeza étnica culminou na solução final nazi (o Porajmos).
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